16/01/2008
Por Ricardo Voltolini, da Revista Idéia Socioambiental
No final de 2007, em entrevista a esta coluna, o vice-presidente do IPCC (Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas) sentenciou do alto da sabedoria de quem acabara de ganhar o Prêmio Nobel da Paz: “O atual modelo de economia de mercado provou-se insustentável. Ou as pessoas e empresas mudam suas maneiras de consumir e produzir ou o Planeta poderá chegar, em 2030, ao seu temido ponto sem volta”, disse em defesa da idéia de que falta senso de urgência para uma reeducação de valores e práticas.
Recortada assim, em tom alarmista, esta mensagem pode parecer inadequada para um artigo de início de ano. Mas aqui ela tem uma finalidade específica: chamar a atenção para a responsabilidade que cabe a cada um de nós na construção de um modo de vida mis sustentável. Início de ano, como se sabe, representa um momento de transição de ciclo. Propício para “balanços”, enseja revisões do que foi e do que deixou de ser feito e abre a possibilidade corrigir rumos, reprogramar sonhos ou tomar atitudes tantas vezes adiadas apesar de claramente vantajosas – a dieta saudável, o curso de MBA, o período sabático, a compra de um imóvel ou o projeto de ter filhos.
O nascer de um novo ano é, na essência, um tempo de esperança em que se permite querer mudar. Nada mais oportuno, portanto, do que recorrer á sua simbologia para propor uma reflexão baseada no enunciado de Munasinghe. “O quanto nós, brasileiros, estamos mudando modos de consumir diante da preocupante alteração do clima?”, é justo se perguntar.
O primeiro e mais óbvio indicador diz respeito à pegada ecológica, isto é, aos impactos que o nosso estilo de vida provoca no Planeta. A gravidade da atual situação impõe-nos o dever moral de reduzi-la ao máximo para que não esgotemos hoje a cota individual de recursos naturais que podemos legar aos nossos filhos e netos. Menos lembrado como fator de mudança é o uso pleno da capacidade que todos temos de influenciar as empresas, com decisões de consumo equilibradas e conscientes, que as punam ou as recompensem em decorrência de seus compromissos efetivos com a adoção de modelos mais limpos de produção e negócios.
Deixar o carro mais vezes na garage diminui a pegada ecológica e, por tabela, ajuda na solução do problema do clima. Se todos deixarmos de comprar um segundo ou terceiro carros fabricados exclusivamente para combustível fóssil, este ato forçará os fabricantes a reverem seus processos e produtos. A mudança necessária nada mais é do que a combinação de pequenos gestos de impacto individual com grandes gestos individuais de impacto coletivo. Quanto maior o nível de consciência no consumo, mais efetiva podem ser as contribuições para o desaquecimento da Terra.
Pesquisa do Market Analysis, feita em 2007 em 18 países, revelou que os brasileiros estão entre os mais preocupados do mundo com as mudanças climáticas. No entanto, 46% acham que um indivíduo pode fazer muito pouco diante de um problema tão grave.
Considerando as variáveis competência e capacidade para mudar o quadro, o interessante estudo identificou quatro grupos. O mais numeroso (40%), dos “mobilizáveis”, é formado por pessoas com bom nível de informação sobre o aquecimento global, alinhadas com a atuação das ONG´s, críticas em relação às empresas, mas que não desempenham necessariamente papel atuante em seu dia a dia. Apenas um em cada seis integrantes desse grupo, no entanto, pode ser classificado como consciente e mobilizado.
O segundo grupo, denominado “céticos alternativos”, reúne 38% de brasileiros muito bem informados sobre o problema, dispostos a adotar mudanças em seu estilo de vida e sensíveis á idéia de que é possível conciliar crescimento econômico com respeito ao meio ambiente. Eles acreditam que, individualmente, podem dar uma resposta mais clara do que sociedade como um todo. O terceiro grupo, dos “confiantes passivos” (12%) confia mais na sociedade do que em sua própria capacidade de mudar a situação. E o quarto grupo, da “retaguarda inoperante” (10%), não crê nem no potencial do indivíduo, nem no da sociedade. Ambos se caracterizam por uma postura desinformada e acrítica.
Como se pode ver por esses números, são grandes os desafios de mobilizar os brasileiros, fazendo com que percebam o poder de influência que tem o consumo consciente na mudança dos modelos de produção e estratégias de negócio. Que 2008 seja o primeiro ano no processo sugerido por Munasinghe de reeducação para valores e práticas mais sustentáveis. Afinal, o início de ano é sempre uma boa oportunidade para fazer o que precisa ser feito.ist
* Ricardo Voltolini é publisher da revista Idéia Socioambiental e consultor de Idéia Sustentável. E-mail: ricardo@ideiasocioambiental.com.br
(Envolverde/Idéia Socioambiental)
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
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