terça-feira, 8 de janeiro de 2008
Desertificação pode criar "refugiados ambientais", alerta consultor
Érica Santana
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Mais de 1 bilhão de pessoas vive em regiões áridas, semi-áridas e subúmidas secas, responsáveis por 22% da produção de alimentos do mundo. Só no Brasil, de acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente, 32 milhões de pessoas habitam áreas que podem se tornar desérticas – áreas que ocupam mais de 1,3 milhão de quilômetros quadrados, ou seja, 15,7% do território nacional. O diretor de Relações Institucionais da Associação Maranhense para a Conservação da Natureza (Amavida), João Otávio Malheiros, aponta o risco de elas se tornarem “refugiados ambientais”.
Segundo Malheiros, se não se reverter a desertificação, essas pessoas não conseguirão permanecer nas áreas em que habitam hoje. “Antes se tinha um processo de êxodo rural a partir das secas, e isso não vai ser mais episódico. Vai ser um problema sério”. Ele é consultor no “Relatório de Implementação de Combate à Desertificação”, documento elaborado sob a coordenação do Ministério do Meio Ambiente e que será apresentado a outros países.
A principal causa da desertificação é o acelerado processo de degradação do solo, avaliou o ambientalista. “Os panoramas que estão sendo delineados, mantidas as atuais tendências, são todos muito preocupantes. O que nós da sociedade civil temos como solução são milhares de ações, que somadas sejam uma grande solução para um grande problema”, disse, em entrevista à Agência Brasil.
Malheiros defendeu a estabilização do avanço da desertificação, impedindo que novas áreas sejam degradadas, e a adoção de práticas agrícolas mais desenvolvidas como medidas a serem adotadas no combate e prevenção da deterioração do solo. “É vital que se recomponha a malha hídrica, que se protejam as nascentes, que se faça um trabalho muito grande de capacitação da agricultura, das práticas apropriadas que tenham relação mais simbiótica com o clima e que se desenvolvam estratégias apropriadas para o clima, que está cada vez mais árido”.
O ambientalista lembrou que as mudanças climáticas provocadas pelo efeito estufa têm reflexo direto no processo de desertificação: “Nós vamos ter uma agudização do problema, e a desertificação, que já vinha se acelerando, com esse impulso do aquecimento global vai ter um ritmo mais acelerado ainda”. Para ele, “é necessária uma grande reflexão na sociedade com construção urgente de políticas públicas efetivas”.
João Otávio Malheiros informou que a cada ano a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que uma superfície equivalente a Bélgica e a três Sergipes perde sua capacidade vital. “É uma questão que não é opção”, comentou. “Ou nós damos respostas efetivas ou seremos todos tragados por uma crise ambiental de proporção ainda inusitada.”
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