terça-feira, 4 de março de 2008

Babaçu e alga de água doce podem conter o futuro combustível da aviação


Quinta, 28 fevereiro 2008 . The Wall Street Journal


Richard Branson até bebeu combustível para mostrar seu comprometimento. Um "showman" como sempre, o presidente da Virgin Atlantic Airlines, Richard Branson, abriu um vidrinho com combustível de aviação feito de óleo de coco e babaçu do Brasil e bebeu, forçando um sorriso rígido.

"É mais apropriado para o motor", disse ele diante de câmeras de TV. Depois, reservadamente, disse que tinham dito que ele podia beber, "mas, meu Deus, é horrível".

Branson espera que ele e os passageiros da companhia aérea sintam um gostinho muito melhor do "biocombustível" daqui a alguns anos.

No domingo, a Virgin fez um vôo com um Boeing 747 do Aeroporto Heathrow, de Londres, para Amsterdã com uma das quatro turbinas do avião queimando um mistura de 80% de combustível de aviação e 20% de óleo vegetal. O primeiro teste comercial feito por uma empresa aérea com biocombustível aconteceu sem nenhum problema - exceto o arroto de Branson -, demonstrando que um dia os aviões podem deixar de consumir somente combustíveis à base de petróleo.

Em três a seis anos, prevêem especialistas em combustíveis, os passageiros poderão voar em jatos pelo menos parcialmente movidos a óleos vegetais, com uma redução de 20% no total de emissões.

As companhias aéreas estão sob uma crescente pressão para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, que contribuem para o aquecimento global, embora os poluentes da aviação somem menos de 3% do total dessas emissões. Os jatos são sinais visíveis de dano ambiental e os cientistas temem que os poluentes que são despejados diretamente em altas altitudes possam ser mais perigosos do que os que são liberados em terra.

Alguns governos já estão tributando os passageiros de avião para desestimular a poluição que os vôos causam, e as companhias aéreas vão provavelmente ser incluídas em regimes de trocas de emissões, obrigadas a pagar pela exaustão.

A combinação de tributos ambientais e da alta do petróleo pode tornar os biocombustíveis não somente viáveis, mas também mais baratos do que os combustíveis à base de petróleo. No domingo, Branson pediu que o governo do Reino Unido reduza os impostos cobrados dos passageiros no caso das empresas aéreas que reduzirem as emissões, com as economias repassadas diretamente aos passageiros. Ele também sugeriu que no futuro os passageiros poderão conseguir escolher a empresa aérea não somente com base no preço, grade de vôos, amenidades e milhas oferecidas e coisas assim, mas também com base em até que ponto a empresa aérea e seu combustível são "verdes".

"Isso vai estimular uma concorrência entre empresas aéreas", disse. "Alguns passageiros podem fazer um esforço extra para voar numa empresa aérea verde."

O biocombustível não queima mais limpo nas turbinas de avião do que o querosene, a base do combustível de aviação atual. As emissões são na verdade praticamente iguais, dizem especialistas em combustíveis. Mas o biocombustível consegue reduzir o dano ambiental total em 22% porque a produção dele é menos prejudicial. As plantas e árvores que produzem os óleos removem gás carbônico da atmosfera, por exemplo, e não incluem toda a perfuração, o refino nem os custos de transporte do petróleo.

O teste da Virgin, feito junto com a Boeing Co. e a General Electric Co., que fabrica turbinas, ocorreu depois que a GE já havia feito muitos testes da mistura com biocombustível. O combustível foi produzido pela Imperium Renewables Inc., uma empresa de Seattle, no Estado americano de Washington.

A Imperium, uma empresa de quatro anos fundada por John Plaza, um ex-piloto da Northwest Airlines Corp., resolveu um problema que muitos especialistas em combustível pensavam ser insuperável - produzir um biocombustível para jatos que não congele nas temperaturas incrivelmente baixas das altitudes alcançadas pelos vôos.

Os biocombustíveis que estão sendo testados agora podem ser usados em turbinas de aviões sem nenhuma modificação, informaram a Boeing e a GE.

Os resultados do teste de domingo não serão conhecidos até que os dados do desempenho sejam analisados e a turbina passe por revisão.

"A turbina está se comportando normalmente em todos os aspectos", com a mesma propulsão das outras três, anunciou o comandante Geoff Andreason via rádio durante o vôo.

O coco e o babaçu provavelmente não são, entretanto, o futuro para os biocombustíveis viáveis, porque o óleo extraído dessas plantas, que são usadas em cosméticos, pomadas para os lábios e cremes de barbear, não podem ser produzidas em quantidade suficiente para alimentar as empresas aéreas do mundo.

Plaza diz que a tecnologia da Imperium pode extrair biocombustível para aviação a partir de praticamente qualquer planta renovável, e que a substância que pode ser a mais promissora é a alga de água doce. Um combustível totalmente feito de fontes renováveis que gere a mesma energia que o querosene é possível dentro de cinco anos, afirma.

Scott McCartney

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