Por Stephen Leahy, da IPS
Os biocombustíveis passaram de salvadores do meio ambiente a apenas outra forma de se ficar rico. Países e regiões sem reservas de petróleo agora consideram suas propriedades, sua turfa e suas florestas como possíveis campos de óleo, pouco profundos, mas bastante rentáveis. Entretanto, renovável não significa sustentável. Na maioria dos casos, o único verde dos biocombustíveis são as cédulas de dinheiro que geram. Não é surpresa, pelo seu elevado preço, que o investimento em combustível de origem vegetal chegou a US$ 21 bilhões em 2007, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Por sua vez, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) anunciou o investimento de US$ 3 bilhões em projetos privados para produzir biocombustível, em especial no Brasil. No entanto, o Banco Mundial informou que destinou US$ 10 bilhões no ano passado. Enquanto isso, a ajuda ao desenvolvimento para os cultivos de alimentos caiu para US$ 3,4 bilhões em 2004. A participação do Banco Mundial foi menor em US$ 1bilhão, segundo o Informe de Desenvolvimento sobre Agricultura divulgado pelo Banco em outubro passado. A maior parte do dinheiro foi destinada ao subsídio do uso de fertilizantes químicos.
“Não é apenas o Banco Mundial. Agências de desenvolvimento regionais, organizações progressistas da Europa e de muitos outros países investem em biocombustíveis”, disse Anuradha Mittal, do Instituto Oakland, organização não-governamental dedicada a questões sociais e ambientais. “Fiquei assombrada de ver quanta terra se tirou dos pobres na Índia para produzir agrocombustível”, disse à IPS, após uma visita ao seu país. Muitos ativistas preferem o termo agrocombustível em lugar de biocombustível, porque dá ênfase no uso de cultivos agrícolas.
Os agrocombustíveis são “soluções falsas” para o grave problema da mudança climática, e em muitos casos agravam diretamente a situação, acrescentou Mittal. A pioraram porque as nações industriais realmente acreditam que reduzem suas emissões de gases causadores do efeito estufa, mas, na realidade, não conseguem lidar com um consumo de energia, e outros recursos, fora de controle. A maioria dos cientistas atribui a esses gases, como o dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, o aquecimento do planeta.
Os investidores em biocombustíveis não fazem apenas dinheiro, também podem obter créditos de carbono no contexto do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), estabelecido pelo Protocolo de Kyoto. O esquema permite aos países ricos superar seus limites de emissões se financiarem projetos de redução em nações do Sul por meio de um sistema de créditos. A iniciativa também permite o financiamento de projetos de energia solar e eólica. Mas com os biocombustíveis ficou difícil determinar a quantidade exata de dióxido de carbono reduzido em relação ao combustível de origem fóssil em comparação às emissões liberadas pelo cultivo, transporte e pela produção.
Apenas uns poucos projetos pequenos que produzem biodiesel a partir de óleo vegetal usado recebem financiamento pelo MDL, disse Almuth Ernsting, da ONG britânica Biofuelwatch. Mas uma grande quantidade de outras iniciativas em grande escala no Brasil e um projeto para produzir etanol no México talvez sejam aprovados este ano. “A indústria afirma que precisa de financiamento do MDL”, disse Ernsting à IPS. “Se esse esquema financia esses tipos de grandes projetos, então os mercados de carbono possivelmente financiem outros”. Se isso ocorrer, como é provável, outra onda de financiamento de projetos para produção de biocombustíveis inundará o mundo quando ainda existe um considerável debate científico sobre os benefícios ambientais dos agrocombustíveis, ressaltou.
As últimas pesquisas mostram que os fertilizantes e o cultivo do solo liberam entre 30% e 40% das emissões de dióxido de carbono. Sabe-se desde 2005 que o biodiesel da Europa, produzido a partir do óleo de palma da Indonésia, causou desmatamento, drenou a turfa e liberou grandes quantidades de dióxido de carbono na atmosfera. Agora é difícil reverter o ocorrido. A União Européia expressou sua preocupação pela situação, mas manteve o objetivo de 10% do combustível utilizado pelo transporte seja de origem vegetal, disse Ernsting. “Se levarmos a sério a luta contra a mudança climática, será preciso uma moratória sobre os agrocombustíveis para permitir uma avaliação adequada”, garantiu.
Os riscos e os benefícios dos biocombustíveis devem ser analisados, concordou George Weyerhaesuer, executivo da Weyerhaesuer Company, uma das maiores empresas de produtos florestais. “Necessitamos resolver isso e rapidamente enviar recomendações à ONU”, afirmou Weyerhaesuer, que trabalha com o Conselho Mundial de Empresas a Favor do Dsenvolvimento Sustentável, com sede em Genebra, que reúne 200 empresas.
(Envolverde/ IPS)
domingo, 10 de fevereiro de 2008
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